Crepúsculo
Existem certas épocas nas quais os homens adormecem dentro de uma nação, passam a vegetar, seu espírito se apequena. A agressividade e a dominação engolem os ideais. Se apagam os faróis que poderiam guiá-los para longe das rochas traiçoeiras. Não há mais indignação verdadeira, só um simulacro futilizado de clamor popular. Mesmo as vozes roucas dos que tem olhos para ver e advertir são abafadas pelo burburinho idiotizante. Todos se aglutinam junto à mesa oficial para disputar algumas migalhas de poder. A verdade começa a ser apagada pelas sombras triunfantes. A admiração pelo que é belo e honrado, a fé em crenças firmes, a exaltação de ideais, a caridade desinteressada, a abnegação, tudo o que está no caminho da virtude e da dignidade começa a se tornar rarefeito.Fala-se através de clichês e palavras de ordem, crê-se através de catecismos, vive-se de expedientes. Os vulgares encontram fervorosos adeptos naqueles militantes do interesse.Esse achatamento moral é mais grave que a aclimatação da tirania.Não se voa onde todos se arrastam. Mesmo em meio a horríveis ditaduras aparecem Sócrates, Boetius,Sojelnítsins, Anne Franks, Hanna Harendts, Viktor Fankls; pois é justo nas trevas que se percebem melhor as luzes, mesmo as solitárias. Mas a penumbra esconde até as luzes, e infelizmente é nessa meia sombra que nos encontramos.Que Deus tenha piedade.