Wednesday, August 15, 2012

O consolo da filosofia

O homem pode deixar corromper-se de múltiplas formas: pelo dinheiro, pelo vício, pela lisonja, pela inércia, pelo clima, pela coletividade, pela estupidez, pelo egoísmo, etc. Algumas destes fatores são redundantes, eu sei. Muitas vezes operam até em conjunto - 1,2,3 até4 ! -, sem dúvida. Mas dois suplantam e imperam sobre todos os outros, como aqueles que mais vítimas humanas têm causado: o Poder e o Medo.
São implacáveis e inesgotáveis, difícil, senão quase sobreumano, é resistir-lhes. Ainda mais porque operam em equipe, caçam em conjunto - àqueles a quem não corrompe o Poder, quase sempre corrompe o medo; e se a uns domina a soberba e a impiedade, a outros, geralmente tributários daqueles, subjuga a covardia, a pulsilanimidade e o servilismo. Escravos, todavia, são eles todos... Por uma razão muito simples e suficiente: nenhum deles é senhor de si. De tal modo que uma lei universal e sinistra se vem perpetuando, através dos povos e séculos: quando maior o Medo, maior o Poder; e quanto maior o Poder, maior o Medo. Há quem diga que ambos, medo e Poder, não passam de duas faces horrendas do mesmo monstro. É possível. Aprendi na vida que se nesta há algo que a valha, talvez se resuma numa palavra: resistência. Resistência a todos os tipos de corrupção (sabendo nós antecipadamente que a nossa própria natureza é falha, nos retira o ànimo e embosca a vontade ,que por sua vez é uma forma garantida de corrupção), mas sobretudo ao Poder e ao Medo. Pois morrer, todos vamos; mas morrer inteiros, só mesmo alguns... raríssimos!.
Essa raridade exemplar é mesmo uma constante e uma certeza históricas. Que eu consiga vislumbrar, à parte Jesus Cristo que pertence a outra dimensão, ocorre-me, na Antiguidade, Diógenes. Há um episódio paradigmático: convocado por um qualquer general de Alexandre, Diógenes ignorou impávido colosso a ordem. Enfurecido, o general reforçou a ordem com uma severa ameaça: ou Diógenes comparecia perante ele, ou ele, general, matava-o (caindo no nosso famoso :"manda quem pode, obedece quem tem juízo") .Mas a noção de juízo de Diógenes não era tão comezinha. Resposta do filósofo ao ordenança: "diz-lhe que não vou. nem irei nunca. E matar-me não é grande proeza nem nada que me tire o sono: qualquer escorpião consegue fazer isso."
Me recordo ainda de uma cena do grande filme "Dr.Jivago", onde no princípio da revolução bolchevique os ditos comissários "do povo" começavam a embarcar como gado a população em vagões de trens para algum lugar não sabido, e a populaça, em número infinitamente maior que os poucos guardas armados lá ia rumo ao abatedouro, cabisbaixos, enfim bovinos, mas num canto do vagão está um anarquista, arrebentado, espancado, pois sofrera as carícias da revolução previamente.Este levanta os braços presos por grossas correntes e grita desafiador para os demais: - "Só eu sou verdadeiramente livre nesse vagão". Não o corrompeu o Poder, como nunca o corrompeu o Medo.A batalha mais difícil nunca é aquela que espera o guerreiro no campo; mas a que espera o vencedor dessa batalha. Quantas vezes ganhar o mundo não é perder a alma?...
A se pensar no momento espúrio que vivemos .

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