Meu patriotismo

Me cobram reverência pelo meu país.Mando-os a merda. Concordo que tal qual a família, a Nação faz parte indelével da nossa formação. Mas provem primeiro que vivo numa Nação. Um país cuja língua foi mutilada e subverteram todo o sentido das palavras, onde a comunicação entre adultos só comporta amenidades e lugares-comuns, onde a politização do discurso levou as idéias ao deserto da monotonia politicamente correta, onde discordar do consenso asinino é tomado como ofensa pessoal, onde cultura se tornou um arremedo de demonstrações de multiculturalismo para gringo ver, onde literatura se tornou expressão de desejos baixos ou de propaganda ideológica de quarta categoria. Um país que teve a memória reescrita como uma ficção de mentiras, onde tradição é encarada como atraso, onde responsabilidade e dever são encarados como sofrimento, onde qualquer lixo em processo de rejeição no primeiro mundo é saudado como novidade redentora,onde neguinho quer rebolar e sambar. Se já foi dito que o nacionalismo é o último reduto dos canalhas, o patriotismo a brasileira é a última tábua de salvação para idiotas. Se tenho uma pátria, essa pátria é a do espírito. Melhor, sou um cosmopolita do espírito, minha terra natal chama-se Cristandade, mas tenho a cidadania do País dos Escritores Mortos (eles tem inclusive uma representação diplomática no fim do corredor da minha casa, chama-se Biblioteca de livros antigos), sou bem-vindo na terra dos HQs e na nação do Cinema antigo, a União das repúblicas da música clássica e do jazz me concederam condecorações e a Terra dos Meninos que ainda Sonham com Aventuras sempre me recebe de braços abertos quando para lá vou junto com meus filhos.Se vocês querem levantar os bracinhos em saudação a tiranos e aspirantes ao cargo por quantia menor que trinta dinheiros,que o façam, mas minha consciência não tem preço.