Saturday, October 30, 2004

Rejuvenescimento e senilidade

Certas sociedades chegam a um ponto crítico de envelhecimento, conjugando tanto a senilidade demográfica quanto (e principalmente) a moral, que se não ocorrer um sopro de revitalização, essa mesma sociedade vem a fenecer. Vejamos como exemplos claros duas civilizações do passado- a romana e a persa, ambas chegaram a um ponto de suas histórias em que a corrupção, o hedonismo, o chafurdamento em todo tipo de imoralidade e desvio, levaram a um enfraquecimento e retração de todas suas bases como civilização mesmas. A coisa chegou a um ponto em que se verificava uma queda populacional, com envelhecimento e decrepitude das elites , ocasionando um enfraquecimento sem paralelo, até então, destes dois impérios que dividiram o mundo por um longo período. Encaminhavam-se para seus crepúsculos,mas foram salvas pelas vagas de bárbaros e pelas crenças de fora que balançaram seus alicerces, como para que testar entre as pilastras que deveriam ser mantidas e aquelas que já estavam podres, corroídas pelo tempo e pela ação dos vermes, que deveriam ser deitadas ao fogo.No caso do império romano, os povos do norte vieram dar liga às modificações iniciadas pela expansão do cristianismo, povos agrícolas, frugais , de relações familiares sólidas, com uma noção de honra e respeito a contratos (se é que naquela época podíamos assim chamar as combinações inter partes). Povos que, vindos de regiões inóspitas e geladas, tinham além da busca da sobrevivência, uma incessante necessidade de esperança. Esperança que era a própria mensagem da Fé cristã. Que contraste com a classe patrícia romana, ainda embebida de paganismo e relativismo, com famílias desunidas, sem vontade de procriar. Sob o ponto de vista de manutenção e desenvolvimento de uma civilização, quem na verdade eram os bárbaros?
Pouco diferente era o império persa, com suas classes dominantes lânguidas e pervertidas, onde tudo se resumia a negócios, dubiedade e prazer. Compare-se com a retidão ,a força e a certeza inabalável das mensagens corânicas e do comportamento dos nômades árabes.Em ambos os casos, tal influência renovadora atuou sobre instituições pré existentes e serviu de arranque para duas novas civilizações que bem ou mal, se mantiveram no auge de seus respectivos domínios por mais de mil anos, resistindo a pestes, invasões e guerras sem desaparecerem.
Faço toda esta reconstrução histórica para comparar duas civilizações, que apesar de compreendidas no todo como civilização ocidental, na verdade têm se comportado de maneira totalmente diversa nos últimos 300 anos. As civilizações européia e americana como que escolheram trilhar caminhos inconciliáveis nesse espaço de tempo, ao ponto de uma se tornar um ponto de referência no que tange às liberdades individuais e sua defesa e a outra ter acumulado exemplos e mais exemplos, um mais chocante que o outro, no campo da intolerância humana. Algo que toca , seja ao visitar e viver por um período, seja ao ler seus jornais e autores, é a sensação de que , em se tratando da Europa, por mais que nos esforcemos em ser otimistas, não podemos deixar de sentir uma sensação de que algo está morrendo, tal qual um ancião com uma doença insidiosa. Um niilismo mal disfarçado, de quem parece pedir para não ser incomodado enquanto espera a moura torta.Enquanto a América se abre para todos aqueles que têm coragem de buscar uma nova vida, de alimentar uma esperança, de ter horizontes para singrar com as vistas, a Europa se fecha em suas vielas apertadas e em seus castelos escuros, contente demais com seus miasmas, receosa de que alguma lufada de ar fresco os leve para longe dali. Sintomático, portanto as duas reações que descrevo abaixo:

-Discute-se nessa semana a entrada da Turquia na UE, e a França e a Alemanha vêm apresentando enormes entraves para que ao menos se dê inicio ao dito processo.Teme-se o impacto da entrada de 80 milhões de turcos, a maioria muçulmanos, junto a cultura e as instituições europeias. Primeiramente, pergunto eu, que grande preocupação é essa com a cultura europeias se a mesma já quase não existe. Sim, senhores, não façam essa cara de surpresa como se estivesse a falar algum absurdo estratosférico. Cada vez mais a massificação e o multiculturalismo tem predominado no ambiente dito de vanguarda cultural europeu, e como tudo o que se apresenta como um mero epifenômeno de transformações político-ideológicas, não tem existência própria, apenas condicionada. Uma vez que o fenômeno cesse também cessa o epifenômeno. Ou seja , impedem o acesso a melhores condições de vida e de progresso econômico, talvez com reflexos importantíssimos na geopolítica do Oriente Médio e da Ásia Central, do país muçulmano que mais tem se mantido aliado ao Ocidente, para se preservar uma farsa!Então tanto a esquerda como a direita européias, que ficam bradando aos quatro ventos seu antiamericanismo e seu anti-sionismo em defesa dos muçulmanos, não os quer como iguais, como parceiros na construção de uma sociedade, e sim como empregadinhos naquelas funções indesejáveis ou como peões em suas jogadas sujas no tabuleiro internacional.

-Já os EUA, uma sociedade cada vez mais diversificada etnicamente e culturalmente, mas que vem tentando manter intactos os princípios em que se baseia desde de seu surgimento. Na corrida eleitoral em que se está decidindo mesmo o futuro destes princípios ,dois fatos curiosos:
Primeiro, a enorme quantidade de cartas e telefonemas (na maioria das vezes escondidas e não divulgadas)que os jornais e TVs de viés esquerdista têm recebido de afegãos e iraquianos que vivem nos EUA e têm parentes em seus respectivos países, defendendo a ação americana na guerra contra o terrorismo. Em segundo lugar , um fato que recolhi num dos blogs dos europundits, a reação de um jovem recém- imigrado do Sudão em Chicago, quando abordado por uma manifestante pró-Kerry do tipo "blame America first", o qual bateu boca com a mulher, defendendo firmemente a América e dizendo que ainda tinha a esperança de trazer seus familiares para aquela terra. Em todos esses casos, muçulmanos, seguidores de sua fé, tão distinta da América laica ou cristã, em defesa dos princípios que estão vivenciando de uma maneira realista. O sopro de vitalidade que incessantemente renova aquela civilização.

Eis a diferença fundamental entre o suicídio lento e covarde e o bom combate.

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